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Estiagem faz Alagoas importar milho 17413e

Produto é comercializado em Maceió por valor médio de R$ 60 a mão, com 50 espigas; vendedores dizem que preço será mantido 2i5t6r

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 13/06/2025 09h05
Estiagem faz Alagoas importar milho
Milho vendido en diversos pontos da capital alagoana vem, em sua maioria, do estado de Pernambuco, por conta da redução da produção em Alagoas, motivda pela estiagem - Foto: Edilson Omena

Principal ingrediente da culinária junina, o milho, já está sendo ofertado nas praças da capital. A “mão” de milho, quantidade equivalente a 50 espigas, está sendo comercializada a R$ 60. Os comerciantes garantem que o valor não sofreu reajuste em relação aos festejos juninos do ano ado. No entanto, adiantaram que, nos próximos dias, o investimento para garantir o milho à mesa pode chegar a R$ 70 a “mão”. Hoje, dia de Santo Antônio, o primeiro dos Santos juninos, o milho deve ser fazer presente na maioria das mesas dos alagoanos.

Os vendedores – vindos do interior do estado e até de Pernambuco – explicaram que há pouco milho em oferta. Isto porque, neste ano, conforme os comerciantes, a chuva que era para ter chegado em março atrasou e veio apenas em abril, o que atrapalhou a cadeira produtiva do cereal.

Uma coisa é certa: fregueses e comerciantes vão se acertar e encontrar o melhor caminho para a compra do milho. Afinal, o mês mais nordestino do ano fica ainda mais saboroso com o milho à mesa.

Quem comercializa o produto afirmou que, embora desde o início do mês, o milho esteja sendo vendido, as vendas são realmente aquecidas com a proximidade dos festejos dos Santos juninos.

Em Maceió, um dos pontos mais conhecidos de venda de milho é a Praça Afrânio Jorge, popularmente conhecida como Praça da Faculdade, no bairro do Prado.

A dona de casa Agneide Vital de Souza parou o carro próximo à Praça e garantiu a primeira “mão” de milho deste ano. Ela contou que vai levar o produto para casa para a mãe preparar dezenas de receitas. “Já é certo nesta época que milho não pode faltar. É praticamente obrigatório”.

O milho é uma tradição na mesa do alagoano, durante os festejos juninos que se iniciaram ontem com as comemorações de Santo Antônio.

Comerciantes precisam de criatividade e diferencial para alcançar as melhores vendas durante esta época (Foto: Edilson Omena)


Vendedor negocia há 40 anos na Praça da Faculdade


Na Praça da Faculdade, no bairro do Prado, o vendedor Ivânio Bomfim, mais conhecido como “Barba de Milho”, de Santana do Ipanema, já é figura conhecida. Como os preços entre os comerciantes são praticamente os mesmos e a oferta de milho não está alta, os vendedores precisam apresentar um diferencial na hora de agradar ao freguês.

“Barba de Milho” vende milho há mais de quarenta anos. Neste ano, trouxe o produto de Pernambuco. De olho em um mercado diferenciado, “Barba de Milho” levou quase toda a família à Praça da Faculdade para ajudá-lo nos negócios e oferece também à clientela milho cozido e assado na hora. Cada unidade custa R$ 4.

Ao levar três unidades de milho cozido ou assado, o consumidor pagará R$ 10. Isso sem falar na canjica e na pamonha (vendida por R$ 8, a unidade. Duas unidades, saem a R$ 15) e no bolo de milho decorado com as palhas, cuja fatia é comercializada a R$ 5. E se for vontade do freguês, o milho pode ser também vendido fora da palha e já limpo, sem os “cabelos”.

“Se a gente fosse fazer as contas direitinho, o milho era para estar mais caro, para poder cobrir os custos com a produção este ano, mas daí, iríamos perder muitos fregueses. É melhor manter a freguesia fiel”, ensinou o experiente comerciante.

Moradora de Marechal Deodoro, Ilda Carvalho, gostou que o valor do produto não teve acréscimo. Ela afirmou que a família se junta e comprar pelo menos 50 espigas para cada um dos dias em homenagens aos Santos juninos.

“O milho de Santo Antônio, eu já estou garantindo. Falta ainda comprar o milho de São João e o de São Pedro”, falou, enquanto escolhia as espigas mais verdinhas, as preferidas para algumas das dezenas de receitas.

Difícil é manter a dieta com tanta fartura nos festejos

E como manter o foco na dieta ou pelo menos tentar não engordar com tantas delícias juninas? Bolo de milho, milho assado, milho cozido, canjica, pamonha, munguzá, cuscuz são inúmeros os pratos típicos feitos à base de milho.

Isso sem falar nos pratos regionais servidos comumente nas festas juninas e que não tem o milho como matéria-prima a exemplo do pé-de-moleque, paçoca, arroz doce e cachorro-quente, lembrando ainda do bolo de macaxeira.

Originário das Américas, o grão é uma planta de origem ameríndia, domesticada por povos indígenas muito antes da chegada dos europeus. No Brasil, há diversas lendas que exaltam o milho e explicam seu surgimento, sempre o associando à fartura e superação de períodos de escassez.

De acordo com Bárbara Moraes, especialista em gastronomia e professora do curso de Nutrição da Uninassau, o milho foi incorporado na cultura junina por ser considerado o pilar da tradição e alimentação nordestina, além de ter sua colheita iniciada no mês de junho.

“Isso já faz parte dos calendários cultural e religioso de todo o país, especialmente por meio das festas católicas que homenageiam os santos populares, como Santo Antônio, São João e São Pedro, reforçando o vínculo entre fé, agricultura e cultura popular brasileira”, explicou.

Canjica e pamonha são vendidas na antiga Praça da Faculdade (Foto: Edilson Omena)

Alimento é completo do ponto de vista nutricional

Do ponto de vista nutricional, o milho é um alimento completo, rico em carboidratos, minerais, vitaminas e lipídios. Destacam-se os tocoferóis (vitamina E) e carotenoides, especialmente a zeaxantina e luteína, compostos com ação antioxidante.

“A combinação feijão (leguminosa) e milho (cereal) era muito importante para os povos primitivos e é, até hoje, para a população brasileira. Apesar de ser altamente proteico, o grão tem ausência do aminoácido lisina. Porém, o feijão possui um alto teor, tornando a junção perfeita, pois um fornecia o que faltava no outro, justificando tais lendas relacionadas a sua origem”, detalhou a especialista.

Para Bárbara Moraes, o grão possui uma versatilidade gastronômica única, podendo ser utilizado em uma ampla variedade de preparações doces e salgadas. Até mesmo como substituto da farinha de trigo.

“Entre as possibilidades estão o croquete de milho recheado com carne, mungunzá salgado com carne seca, brigadeiro de milho, muffins doces e salgados, pamonha salgada, cremes, sopas, escondidinho com creme de milho, pudim, pirão, cuscuz recheado, entre muitas outras criações”, afirmou a professora de Nutrição.
A variedade na mesa não deixa dúvidas de que o milho é tradição e bom gosto.